Entenda o que foi atualizado na nova escala de coma de Glasgow e como deve ser a sua utilização no Atendimento Pré-Hospitalar
A escala de coma de Glasgow é um método para definir o estado neurológico de pacientes com uma lesão cerebral aguda analisando seu nível de consciência. O uso desse recurso é frequente por profissionais de saúde logo após o trauma, para auxiliar no prognóstico da vítima e prever eventuais sequelas.
Apesar de ser muito utilizada atualmente pela Medicina e Enfermagem, essa classificação de assistência é recente. Foi em 1974 que Graham Teasdale e Bryan J. Jennett (do Instituto de Ciências Neurológicas de Glasgow) publicaram oficialmente a escala na revista Lancet. O objetivo era fornecer uma metodologia de atendimento que apontasse tanto a profundidade do dano neurológico quanto a duração clínica de inconsciência e coma.
Quarenta anos depois, Sir Graham Teasdale conduziu um projeto que procurou entender o atual uso da escala e que foi incorporado nas novas diretrizes.
Como é a escala de coma de Glasgow atualizada?
A escala considera três fatores principais e determina uma pontuação de acordo com o nível de consciência apontada em cada um desses casos (espontaneamente ou através de estímulo). São eles: Abertura ocular, Resposta verbal e Melhor resposta motora.
Todas as informações relatadas neste texto são baseadas nas orientações do site oficial da escala de Glasgow. Confira a página e o documento de classificação de assistência oficial GCS Aid em portuguêspara mais informações.
De acordo com essas determinações, as notas devem ser registradas ao longo do atendimento, para que possam indicar a progressão do paciente. Em todos os segmentos observados pelo profissional de saúde, a primeira opção é uma resposta normal do paciente (nota máxima na escala) e a última uma reação inexistente ou “Ausente” (nota 1). É preciso marcar “NT” na pontuação caso não seja possível obter resposta do paciente por conta de alguma limitação.
Ocular:
Espontânea: abre os olhos sem a necessidade de estímulo externo.
Ao som: abre os olhos quando é chamado.
À pressão: paciente abre os olhos após pressão na extremidade dos dedos (aumentando progressivamente a intensidade por 10 segundos).
Ausente: não abre os olhos, apesar de ser fisicamente capaz de abri-los.
Verbal:
consegue responder adequadamente o nome, local e data.
Confusa: consegue conversar em frases, mas não responde corretamente as perguntas de nome, local e data.
Palavras: não consegue falar em frases, mas interage através de palavras isoladas.
Sons: somente produz gemidos.
Ausente: não produz sons, apesar de ser fisicamente capaz de realizá-los.
Motora:
cumpre ordens de atividade motora (duas ações) como apertar a mão do profissional e colocar a língua para fora.
Localizadora: eleva a mão acima do nível da clavícula em uma tentativa de interromper o estímulo (durante o pinçamento do trapézio ou incisura supraorbitária).
Flexão normal: a mão não alcança a fonte do estímulo, mas há uma flexão rápida do braço ao nível do cotovelo e na direção externa ao corpo.
Flexão anormal: a mão não alcança a fonte do estímulo, mas há uma flexão lenta do braço na direção interna do corpo.
Extensão: há uma extensão do braço ao nível do cotovelo.
Ausente: não há resposta motora dos membros superiores e inferiores, apesar de o paciente ser fisicamente capaz de realizá-la.
4 passos para utilizar a escala de coma de Glasgow corretamente:
Verifique: Identifique fatores que podem interferir na capacidade de resposta do paciente. É importante considerar na sua avaliação se ele possui alguma limitação anterior ou devido ao ocorrido que o impede de reagir adequadamente naquele tópico (Ex: paciente surdo não poderá reagir normalmente ao estímulo verbal).
Observe: Observe o paciente e fique atento a qualquer comportamento espontâneo dentro dos três componentes da escala.
Estimule: Caso o paciente não aja espontaneamente nos tópicos da escala, é preciso estimular uma resposta. Aborde o paciente na ordem abaixo:
Estímulo sonoro: Peça (em tom de voz normal ou em voz alta) para que o paciente realize a ação desejada
Estímulo físico: Aplique pressão na extremidade dos dedos, trapézio ou incisura supraorbitária.
Pontue: Os estímulos que obtiveram a melhor resposta do paciente devem ser marcados em cada um dos três tópicos da escala. Se algum fator impede a vítima de realizar a tarefa, é marcado NT (Não testável). As respostas correspondem a uma pontuação que irá indicar, de forma simples e prática, a situação do paciente (Ex: O4, V2 e M1 significando respectivamente a nota para ocular, verbal e motora).
Essas reações devem ser anotadas periodicamente para possibilitar uma visão geral do progresso ou deterioração do estado neurológico do paciente.
O que mudou na escala de coma de Glasgow?
Estrutura: Na escala atualizada, as etapas de avaliação estão mais claras, dando maior ênfase nas pontuações individuais do que na soma total. De acordo com o site oficial, as mudanças foram baseadas na experiência de médicos e enfermeiros pelo mundo.
Nomenclatura: Apesar de manter o número de etapas na avaliação, alguns nomes foram alterados. Em vez de “abertura da dor”, é usado “pressão de abertura dos olhos” para que a natureza do estímulo seja registrada de forma mais precisa. A mudança também foi feita por conta da difícil definição de “dor” e pelo questionamento da necessidade ou até viabilidade dessa sensação no paciente em coma.
Também foi feita a simplificação dos termos “palavras inadequadas” e “sons incompreensíveis” para “palavras” e “sons”.
Resposta motora: Foi atualizada diferenciando a flexão “normal” e “anormal” para facilitar o prognóstico do paciente.
Estímulo: No primeiro documento publicado, não havia uma especificação sobre os tipos de estímulos. A escala possui atualmente a indicação de quais são adequados e em que ordem devem ser realizados no paciente.
Acesse o documento de orientação da escala de coma de Glasgow em português para mais informações
Fonte: IESPE